O que é Engenharia de Informação

Tito Spadini
9 min readApr 2, 2017

Anos atrás, antes mesmo de ingressar no Bacharelado em Ciência e Tecnologia (BCT) da Universidade Federal do ABC (UFABC), tomei conhecimento da existência do curso de Engenharia de Informação (EngInfo) na mesma instituição. Procurei entender um pouco melhor sobre o que se tratava o curso, mas a ideia continuou muito vaga por bastante tempo, especialmente quando as pessoas faziam uso de termos técnicos inéditos para mim ou quando tentavam encurtar muito o papo.

Tentarei expor aqui algumas de minhas experiências e falarei sobre algumas questões referentes ao curso, direta ou indiretamente.

Os contatos iniciais com o curso

Inicialmente, assim como ocorre com qualquer outro aluno de engenharia na UFABC, tive de cursar todas as disciplinas do BCT, passando pelas disciplinas de matemática, física, química e computação, além de algumas de biologia, filosofia e sociologia. Mesmo após dois anos na universidade, ainda não senti que havia tido real contato com a EngInfo. O que aparentava é que eu estava fazendo um curso de engenharia X, de forma mais “genérica”. Mas isso é normal, pois essa sensação era causada pela minha ansiedade.

As disciplinas iniciais que demonstram alguma proximidade com a EngInfo são:

  • Bases Computacionais
  • Natureza da Informação
  • Processamento da Informação
  • Fenômenos Eletromagnéticos
  • Introdução à Probabilidade e à Estatística
  • Comunicação e Redes

Porém, como essas são disciplinas introdutórias, pode ocorrer de várias turmas terem professores de outros cursos que não da EngInfo, o que pode fazer com que a forma com que a matéria é transmitida e as abordagens realizadas não ajudem muito a transmitir a ideia do que se trata verdadeiramente o curso de EngInfo.

Os primeiros contatos mais intensos que tive com o curso da EngInfo ocorreram anos após meu ingresso no curso, em disciplinas como:

  • Transformadas em Sinais e Sistemas Lineares
  • Processamento Digital de Sinais
  • Sinais Aleatórios
  • Teoria da Informação e Códigos
  • Princípios de Comunicação
  • Comunicação Digital
  • Comunicações Multimídia
  • Comunicações Ópticas
  • Programação de Software Embarcado
  • Sistemas Inteligentes
  • Redes de Computadores
  • Redes de Alta Velocidade
  • Segurança de Redes
  • Dispositivos Eletrônicos
  • Eletrônica Analógica Aplicada
  • Eletrônica Digital
  • Ondas Eletromagnéticas Aplicadas
  • Propagação e Antenas

Isso, fora as disciplinas mais gerais de engenharia ou mesmo as disciplinas que ainda não cursei (p.e. Comunicações Móveis e Telefonia Moderna e VoIP, visto que no momento em que escrevi este artigo eu ainda não havia concluído a graduação.

O diploma e o CREA

Desde antes de eu ter entrado na Universidade eu já ouvia dizer que a EngInfo não se tratava exatamente de uma Engenharia de Telecomunicações, nem de uma Engenharia Eletrônica, nem de uma Engenharia da Computação, nem de um tipo de engenharia baseada em Sistemas de Informação, nem nada assim. A fim de simplificar o papo, muitas pessoas preferem dizer que “é tipo uma engenharia de telecomunicações” (sic) mesmo, mas elas próprias sabem que não é bem assim.

Desde aqueles tempos, ouvi sobre o fato de o curso ter três eixos principais, que são Telecomunicações, Multimídia e Redes de Computadores, mas eu não entendia direito do que se tratava isso. Pensava que eram ênfases e que eu teria que escolher uma para cursar suas disciplinas específicas. Pensava que a ênfase viria escrita em meu diploma e que isso se refletiria no meu CREA. Mas não é bem assim que funciona.

Independentemente de quais disciplinas você curse, o diploma será em Engenharia de Informação, pois é o curso que você concluiu. O CREA, por outro lado, é em Engenharia Eletrônica, pois é a área mais geral que o conselho identifica como de possível área de atuação, considerando as disciplinas cursadas pelos alunos ao longo da graduação. O fato de não haver um registro de Engenheiro de Informação no CREA não é demérito algum e não deprecia o curso ou o graduando de modo algum. Muito pelo contrário. Na verdade, isso é até melhor, pois permite que haja uma abrangência ainda maior nos projetos que esse engenheiro poderá atuar.

Ferramentas para o Curso

Assim como em qualquer outro curso, existem algumas habilidades que o aluno deve desenvolver ao longo de sua vida acadêmica, seja por dentro, seja por fora da universidade. Quatro delas são necessárias para um aluno de EngInfo, que são: matemática, programação, eletrônica e inglês.

Matemática

Independentemente de seus objetivos com o curso de EngInfo, você precisa ter bons conhecimentos sobre a matemática básica de ensino superior. Ou seja, na UFABC você terá contato com isso nas disciplinas de:

  • Bases Matemáticas
  • Geometria Analítica
  • Funções de Uma Variável
  • Funções de Várias Variáveis
  • Introdução às Equações Diferencias Ordinárias
  • Cálculo Numérico
  • Álgebra Linear
  • Transformadas em Sinais e Sistemas Lineares

Você não precisa ser o maior matemático de todos os tempos, mas compreender conceitos básicos é essencial para compreender o que virá em disciplinas mais avançadas, pois em disciplinas mais avançadas não se “perde tempo” tentando entender como se resolve uma derivada ou uma integral; a ideia é investir mais nos conceitos que estão sendo exprimidos por detrás das equações e na compreensão dos problema trabalhados e suas respectivas possíveis soluções.

Programação

Outra questão que notei é que existe uma confusão muito grande quanto à programação. Alguns, justamente por não entenderem a proposta do curso, pensam que, por gostarem de programar, a EngInfo é o curso certo para eles. Não é bem assim que funciona. Outros, por sua vez, pensam que quem quer programar deve fazer Ciência da Computação, o que também não é bem uma verdade.

Independentemente do curso que você escolher, ainda que se trate de engenharia de software, ciência da computação ou sistemas de informação, a programação continua sendo apenas uma ferramenta. Qualquer um dos profissionais desses cursos deverá ser capaz de analisar um cenário qualquer de sua área, identificar os problemas e propor soluções. Em nenhuma das etapas mencionadas há a obrigatoriedade de haver linhas de código. A parte da programação de fato estará presente apenas quando for desejado realizar uma simulação ou implementar uma solução já suficientemente discutida e elaborada.

Ou seja, todo o estudo do caso, toda a preparação matemática, toda a análise dos sistemas envolvidos… Enfim, todo o cenário será plenamente analisado para que, só então, comece a fazer sentido programar algumas linhas de código. E, analisando a situação desta forma, fica relativamente fácil compreender porque programar não é a essência de nenhum curso, mas sim apenas uma ferramenta. Uma ferramenta de grande valor e elevada importância, mas, ainda assim, apenas uma ferramenta.

Assim sendo, sim, é mais fácil e um pouco mais prazeroso cursar EngInfo se você gostar de programar e se já tiver um pouco de habilidade com isso, mas jamais escolha este curso apenas porque você gosta de programar, pois há muito mais do que isso por detrás da formação e da atuação nesta área.

Aos interessados em já ir “afiando” sua ferramenta desde cedo, eu recomendo principalmente MATLAB, C, C++ e Python. Isso não significa que essas sejam as melhores linguagens de programação de todos os tempos, mas serão algumas das mais úteis, dependendo de quais forem seus objetivos no curso. Dou apenas um destaque maior para o MATLAB por ser a ferramenta mais amplamente utilizada em cálculos e simulações em um maior número de disciplinas, especialmente dos eixos de multimídia e telecomunicações.

Eletrônica

Considerando que a EngInfo é derivada da Engenharia Eletrônica, é imprescindível que o aluno aceite desenvolver pelo menos um mínimo de conhecimentos nessa área ao longo do curso. Só considerando as disciplinas obrigatórias na UFABC para a EngInfo, o aluno terá:

  • Fenômenos Eletromagnéticos
  • Circuitos Elétricos I
  • Circuitos Elétricos II
  • Dispositivos Eletrônicos
  • Eletrônica Analógica Aplicada
  • Eletrônica Digital

E, dependendo do professor e da abordagem, podemos até dizer que haverá algum contato mais leve com aplicações sutis de circuitos elétricos e eletrônica nas disciplinas de:

  • Princípios de Comunicação
  • Comunicação Digital
  • Sistemas Microprocessados

Se incluirmos as disciplinas de opção limitada, aí a lista cresce ainda mais, seja entre disciplinas com contato mais intenso, seja entre disciplinas que apenas “pincelam” levemente conhecimentos que usem essa área do conhecimento.

Novamente, você não precisa ser capaz de resolver qualquer problema de eletrônica, mas ter um bom conhecimento sobre questões básicas é necessário para ter um bom aproveitamento das disciplinas e ser capaz de aplicar seus conhecimentos em projetos que dependam disso.

Inglês

A imensa maioria dos bons materiais de estudo e referência em nossa área estão no idioma inglês, podendo haver casos com traduções para o nosso idioma, mas geralmente com sérios erros que ocorrem na tradução/adaptação do idioma. Por isso, é fortemente recomendável que sejam utilizadas as versões no idioma original sempre que possível. Além disso, diversos termos técnicos utilizados podem nem mesmo ter tradução para o nosso idioma.

Áreas de Atuação e Oportunidades

Na indústria

São várias as áreas na indústria onde o engenheiro de informação pode atuar, como setores de telefonia, TV, rádio, antenas, microeletrônica, embarcados, redes de computadores, Internet, jogos digitais, inteligência artificial aplicada, sistemas de fibras ópticas, engenharia de som e tantos outros. Pelo novo projeto pedagógico (2017), até mesmo uma grande parte de TI pode ser contemplada.

Na academia

A engenharia de informação não forma seus alunos exclusivamente para trabalhar na indústria, mas também, se quiser, para atuar na academia, fazendo pesquisa em alto nível e continuando seus trabalhos em níveis de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Na UFABC existem todas essas possibilidades, contanto inclusive com instalações para pesquisa em câmara anecoica e laboratórios para pesquisa com fibras ópticas e para pesquisa com sinais e sistemas (no LSS, o Laboratório de Sinais e Sistemas), onde há pesquisadores de todos os três eixos principais do curso (telecomunicações, multimídia e redes de computadores).

Empreendedorismo

Além da indústria já consolidada e da academia, os alunos podem optar por inovar e abrir seus próprios negócios com novas soluções em produtos e serviços em diversas áreas da tecnologia. Lembrando que ao longo de várias disciplinas o aluno é convidado a elaborar projetos para aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso e, desde que sejam feitos os devidos ajustes e investimentos, alguns desses projetos podem se tornar soluções e negócios futuramente.

Experiências e Projetos

Logo quando ingressei, tive o prazer de ter passado por uma experiência de contato com iniciação científica. Participei do Pesquisando Desde o Primeiro Dia (PDPD), onde tive com.o orientador um excelente professor de física. Minha pesquisa era sobre transporte eletrônico em materiais nanoscópicos.

Apesar de eu estar ainda em meus primeiros passos na universidade, tive contato com equações diferenciais e integrais, álgebra linear, programação, eletromagnetismo, física quântica, simulação, redação científica, LaTeX etc. Foi uma das épocas em que mais aprendi coisas novas na universidade.

Anos depois, fui ganhando interesse por inteligência artificial. Comecei a estudar mais sobre Machine Learning, técnicas de reconhecimento de padrões e classificação. Conheci um grande professor que me aceitou como seu aluno de iniciação científica e, ao longo do projeto, desenvolvi uma pesquisa que testa e compara diferentes métodos de classificação para identificação de eventos de potencial risco à segurança.

Hoje eu considero fortemente a possibilidade de ingressar no mestrado e dar continuidade à minha pesquisa, podendo até desenvolver melhor um projeto de forma mais completa e transformá-lo em uma solução na forma de um produto/serviço.

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Tito Spadini

Ph.D. student in information engineering, scientist, researcher, writer, programmer, and gamer.